04 maio 2006

Conversas com chá preto

Eu queria ser forte, aguentei uns tempos, mas o facto é que o vício estava lá, esteve sempre lá. E eu não resisti. Sou um fraco... um traste... um vendido. É verdade, voltei a meter-me no chá preto! Depois de mais de um ano, não resisti ao seu apelo! E enquanto o bebericava e deglutia uma torrada sem manteiga, aproveitei para conversar com o Sr. Acúrcio Paco Valenciano, um homem com uma vida sui generis.

Pois... Não Sei!!!: Boa tarde senhor Acúrcio, como está o seu cházinho?

Acúrcio Paco Valenciano:
Não está mau. É uma bebida um bocado rabiló, mas eu até gosto. Por falar em rabiló, eu sei que vocês têm um moçambicano guardado na arrecadação... será que eu podia, sei lá, tirar-lhe as teias de aranha?

PNS:
Julgo que isso não será possível, o Justino da Gaita Grande foi requisitado pelo Governo, não sei muito bem porquê, mas falaram em que lembrava o Quénia ao Zé... Não percebi!

APV:
Ah, que pena...

PNS:
Mas vamos prosseguir; comecemos pelo seu nome. Ao ter escolhido um nome fictício tão estúpido como esse para proteger a sua verdadeira identidade, deve ter algo muito podre no seu passado...

APV:
Por acaso tenho aqui um podre num dente, mas estou à espera da consulta da caixa vai para 6 meses! É uma miséria! Se eu pagasse impostos, ficava indignado! Mas em relação ao nome, não é fictício, foi mesmo assim que os meus paizinhos me baptizaram. Aliás, esse é o primeiro dos meus traumas...

PNS:
Compreendo. Mas sei que esse passou a ser o menor dos seus problemas, quando atingiu a adolescência.

APV:
Sim, quando cheguei a puberdade, as hormonas começaram aos saltos e, como é natural, começou a nascer-me barba.

PNS:
Sim, aconteceu o mesmo com a D. Esmeraldina Eloi, ela aos 13 anos parecia o Panoramix.

APV:
Pois, para evitar isso, comecei a fazer a barba. Mas aquilo era uma desgraça tão grande, ficava tão mal e com tantos cortes, que fui perguntar à minha mãe como é que ela fazia quando a depilação corria mal.

PNS:
E porque não perguntou ao seu pai?

APV:
Nessa altura ele já tinha partido...

PNS:
Lamento, não sabia que era órfão.

APV:
E não sou, ele partiu para o Burkina Faso, onde tinha um fogacho com um rinoceronte albino.

PNS:
Compreendo. E então qual foi o conselho que a sua mãe lhe deu?

APV:
Nunca abater um rinoceronte, podia ser a minha madrasta!

PNS:
Não, em relação à barba!

APV:
Ah! Ela disse-me que quando a depilação ficava mal feita, que usava collants para disfarçar. Então não fui de modas: fui à retrosaria e comprei umas collants - bem bonitas por sinal, que iam com o meu tom de pele - e enfiei-as na cabeça.

PNS:
Isso parece-me um bocado parvo, e também muito pouco discreto.

APV:
De facto, não foi muito discreto, porque mal eu meti aquilo na cabeça, a senhora levantou as mãos e deu-me o dinheiro todo da caixa. Eu agradeci e fui a pensar naquilo para casa, enquanto toda a gente no autocarro metia as carteiras na minha mochila.

PNS:
Deve ter chegado a casa derreadinho, com o peso!

APV:
Ui, nem queira saber! Vinha tão desvairado que me virei e disse: "Acú" - os próximos chamam-me assim - "Acú, vais-te vingar da humanidade e ser ladrão!"

PNS:
Foi nesse momento que o Acú decidiu...

APV:
Então, que confianças são essas??? Até parece que partilhámos a mesma meretriz rançosa!

PNS:
Peço, de facto, desculpa pelo abuso. Foi, portanto, nesse momento que o Sr. Acúrcio decidiu que ia enveredar pelo mundo do crime.

APV:
Foi, foi aí, e andei nessa vida uns tempitos. Até que conheci a mulher da minha vida e casámos. Aí larguei esta vida.

PNS:
Deduzo que tenha sido um casamento feliz.

APV:
Foi... Quer dizer, as primeiras três semanas foram boas. Ela ensinou-me a barbear, recomendou-me uma Philishave igual à dela e tudo correu bem. Os quinze anos a seguir é que foram do cacete para a aturar... A vida sexual então era um tédio! Era uma vez por semana e nas semanas boas!

PNS:
Realmente assim é complicado manter um casamento...

APV:
Nem imagina! Felizmente, a partir do dia em que fizemos 15 anos de casado, tudo mudou! Nessa noite não se queixou, e desde aí era às 3 e 4 vezes por semana!

PNS:
Era? Não me diga que sucedeu alguma coisa à sua esposa...

APV:
Faleceu.

PNS:
Peço desculpa. O senhor não tem tido uma vida fácil, está carregado de sofrimento! A sua esposa faleceu há muito tempo?

APV:
Há algum, sim... Ora deixe-me cá ver... Portanto, foi no dia em que fizemos 15 anos de casamento!

PNS:
Hum, ok. Foi por essa altura que começou a sua carreira como camionista?

APV:
AHAHAHAHAH, deve estar a brincar comigo... Nessa altura eu era um lingrinhas, não tinha pança nem usava camisolas de alças. E pior, não sabia conduzir com o braço de fora, para bronzear do ombro para baixo!

PNS:
E onde aprendeu isso tudo?

APV:
Aprendi na altura em que trabalhava num fornecedor de internet. Sabe, é que sempre me fascinou aquela placa que os camionistas pôem no pára-brisas com o nome, aquilo é quase um IP! Cada neon tem um significado muito próprio...

PNS:
Mas da internet para os camiões, não é um salto gigantesco? Parecem dois mundos diametralmente opostos!

APV:
Mas não são. Repare, hoje em dia, a internet é como uma grande casa de alterne: deixam entrar, colocam um qualquer serviço a disposição (uma Svetlana, para experimentar), deixam dar um apalpão na nádega esquerda, para constatar que é rijinha e que merece o esforço, quando chega a altura de "subscrever o serviço", pagamos um balúrdio!

PNS:
De facto, é uma metáfora interessante.

APV:
Pois, e repare: quem é que percebe mais de rameiras que camionistas e taxistas? Ninguém!

PNS:
E hoje, diria que é um homem feliz?

APV:
Sim, sou de facto feliz. Conduzo um bonito camião que coaxa em vez de apitar - quer dizer, parece mais um peido, por isso é que eu o escolhi! - e tenho uma placa com o meu nome escrito em linguagem hexadecimal.

E foi mais ou menos isto que se passou, num salão de chá perto de si...

2 sem piedade...

Por volta das maio 05, 2006 2:30 da tarde, Blogger Miss I expôs:

Eu até dizia qualquer coisa de inteligente mas ñ me ocorre nada! Tenho uma imagem do Panaromix sobreposta numa mulher a martelar-me a já parca massa de células cinzentas...

 
Por volta das maio 11, 2006 12:48 da manhã, Blogger Joana expôs:

Amigo...(desculpa-me a familiaridade, mas quem é amigo do chá é meu amigo também)...Descobri recentemente o chá branco. Não sei se já te aventuraste nesse mas é altamente aconselhável. Não sei é se dá posts como este, mas é tentar. Beijinhos

 

Arrazoar!

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