Mumento de Coltura

Algures em Outubro de 2005, fazia uma longa crítica a um álbum de culto. Rejubilava pela qualidade do primeiro LP, temendo contudo tratar-se de um one hit wonder. Até que fui alertado anonimamente para a existência de um novo registo de originais de Ukurralle, intitulado "O Enigma da Alface".
Mantendo o mesmo meio de distribuição - gratuita e sem existência física - o álbum está a ser um sucesso! O teaser, disponivel durante cerca de duas semanas, teve uma média diária de 200 downloads, o que equivale a ter mais discos "vendidos" que os UHF.
Segundo as palavras dos próprios, este é um disco mais maduro, o que se compreende dada toda a experiência adquirida (supomos nós) no espancamento de meretrizes. Embora o enfoque das líricas esteja mais virado para as situações de amor, como em Vomitar, vomitar..., Dá-me Carinho, Uma história de amor - parte 3 (A pachacha da Natasha) ou o inconfundível Uma história de amor - parte 4,12-B (Lancei uma O.P.A. à tua cona), os temas sociais não deixam de ser abordados, sobretudo os dramas da ruralidade (Juca, o Pastor) e as dificuldades do submundo da prostituição (És barrasco! e Vida Ruím).
Contudo, o tema que me toca o coração e me deixa sem palavras é, sem dúvida, O Assassino do Bidon; de tal modo que não resisto a deixar aqui a letra deste hino:

Nunca foste uma criança feliz
Nunca quizeste rezar o terço
Fugiste de casa ainda não andavas
Mas antes deitaste fogo ao berço

Nunca brincaste com bolas, nem chupetas
Nunca ligaste às tuas roupas
Tu nunca foste como os outros
Só brincavas com uma chave de bocas

Refrão:
És ruím, és um assassino
Tu não tens nada de bom
Quem te vê, encontra a morte
Que vem na forma de um bidon

Foste crescendo sozinho
Matando todos, sem se ouvir um som
O teu unico amigo
É... um lindo bidon

Quem te roubou a lancheira na escola
Por ti foi morto porque engordou
Mataste os que te sodomizavam
E quem duvidava do poder do bidon

Refrão:
És ruím, és um assassino
Tu não tens nada de bom
Quem te vê, encontra a morte
Que vem na forma de um bidon

Não tens trabalho, tu és um mitra
Nesta vida andas à deriva
És nefasto e és borgesso
Tu matas e não pagas I.V.A.