Mini-teste: como verificar se está senil em 5 simples passos
1 - A eloquência na argumentação
Ex:
"Mas gosta de o ler [Lobo Antunes]?
Não.
Porquê?
Porque não.
O que lhe desagrada na sua escrita?
Não gosto, pronto."
2 - A falta de memória
Ex:
"Voltando à política. Ainda acredita no comunismo como regime de poder?
(...) Espero que o comunismo venha a ter uma segunda oportunidade e que não cometa os mesmos erros e crimes.
A História mostra que nenhum regime comunista foi sinónimo de desenvolvimento...
Nunca houve comunismo no mundo."
3 - As referências difusas
Ex:
"Portugal é uma democracia?
Não. Vivemos numa plutocracia - o governos dos ricos.
(...)
Com o Nobel ganhou uma quantia elevada...
Não brinquemos com isso! Claro que ganhei uma quantia elevada, mas isso não faz de mim rico. Um rico que o ouvisse fazer essa pergunta, jogava-se aí às gargalhadas.
Mas também não é pobre...
Não, também não sou pobre. Vocês têm de ter cuidado com as perguntas. Não me pode perguntar o que é um rico porque eu não sei. E peço-lhe o favor de não contar os meus euros."
4 - O regresso à infância
Ex:
"Desiludiu-se quando o país escolheu Cavaco Silva para Presidente?
Apenas disse que não contassem comigo para as cerimónias em que ele estivesse presente. Afinal, era ele o chefe do Governo que censurou o meu livro [O Evangelho Segundo Jesus Cristo].
Diz-lhe algo?
Não. Se não o cumprimento, também não lhe digo nada."
5 - A Negação
Ex:
Número de vezes que a palavra "não" foi proferida: 43
Número de vezes que a palavra "sim" foi proferida: 3
Caso se verifiquem todos os sintomas é favor deixar um cheque com o valor do funeral e correr (ok, arrastar-se) para o encontro com o sENHOR, na figura de um comboio em movimento.
Nota: Todos os exemplos retirados da "Entrevista Imprevista" a José Saramago ao SOL (pg. 2), nº10 de 18 de Novembro de 2006
6 sem piedade...
Essa 2ª página do Sol só te dá material, hem?
Bem, eu já disse que gosto do que o senhor escreve e acho que a confusão com o "Evangelho segundo Jesus Cristo" era completamente dispensável. No entanto, a obra não é o homem nem vice-versa...
Continuo a ler os livros, não vou defeneder mais nada nele! Muito menos o comunismo (até porque estive em Cuba e vi muito bem a distribuição equitativa...). Até porque nos deu um Nobel e querendo ou não, é um reconhecimento á língua portuguesa.
O Egas Moniz também nos deu um Nobel e não estou a pensar fazer uma Leucotomia pré-frontal só para ficar reconhecido pela honra que trouxe para Portugal...
Mas se calhar devia! Cortava o mal pela raiz...
Eu tenho uma casa numa rua com o nome dele, não ajuda? ;P
Nem por isso... :P
O João Vasco, meu colega de quarto em Coimbra, era um fiel adepto de Saramago e "ensinou-me" a lê-lo. Estava a tirar Português-Alemão por gosto, e não por recurso, e era de tal forma adepto das letras que lhe custava que, quando Saramago falou no auditório da FEUC, a esmagadora maioria dos presentes o avaliassem pelo pensamento político e não pelo valor da sua obra.
O Manuel António era um colega que partilhava comigo uma das barracas em S. Simão, ele nunca ouviu falar de Saramago! E quando lhe perguntaram se ele sabia o que era um prémio nobel ele respondeu:
"Ah a culpa é toda do presidente da câmara! Já há mais de meio ano que anda pra mandar os barracos abaixo e nada..."
Este meu amigo estava a tirar telhas das casas vizinhas, não por gosto mas por necessidade, quando foi corrido à paulada! Isto tudo para concluir que, apesar de aqui ninguém saber o que é um prémio Nobel nem Pulitzer, o mundo das barracas não está indiferente ao valor do pensamento político de Saramago...
Arrazoar!
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