15 outubro 2004

SURTO DE MOSCAS

Começa um gajo a trabalhar após quase um quarto de século de puro Dolce faire niente, de puro ócio, ou ainda se preferirem de não fazer ponta de corno (ou não tivesse eu estagiado num organismo público!!! Que saudades de sair às 5:30 e não fazer nada desde as quatro para não correr o risco de deixar um trabalho a meio!Ahh bons velhos tempos), quando eis-me agora neste vil e cruel mundo laboral!
Estando ainda a habituar-me a ter responsabilidade, horários e, sobretudo, gosto por trabalhar (esta parte é difícil!), algo de bizarro acontece logo na primeira semana de trabalho.
Sendo eu um conceituado jornalista, modéstia à parte (na minha rua todos me conhecem, quer dizer nos primeiros 100m da rua, à lá ber no meu prédio, a bem dizer o meu vizinho do lado, pronto os meus pais – de vez em quando), e de ter muitas primeiras páginas no curriculum, surge o meu primeiro trabalho de investigação no terreno e de elevado nível (o chamado furo jornalístico, um exclusivo):

UM SURTO DE MOSCAS!!!!

Tive que ir à procura das moscas, pelo que podemos literalmente chamar um trabalho de MERDA, na verdadeira acepção da palavra, pois estes pequenos insectos nascem dos excrementos!
Ainda estou a recuperar do choque que é ter de perguntar:
- Desculpe, por acaso tem conhecimento de um surto de moscas?
- Eu, de facto, efectivamente, bem me tinha cheirado a merda mas não tinha associado às moscas!
- E, na sua opinião, a que é que se deveu?
- Epá, provavelmente alguém se cagou…
- Cagou em que sentido? Cagou para as moscas, ou cagou para a situação?
- Prontos pá não sei!
- Posso usar as suas declarações para redigir uma notícia?
- Sim mas só com a voz distorcida.
- Obrigado e boa tarde.
- Boa tarde.

Futuros jornalistas deste país, esta profissão não tem segredos, mas às vezes cheira mal…

PS: Desculpem lá qualquer rasgo de insanidade mental! É do trabalho.

PS2: É verdade, É BOM VOLTAR À ESCRITA! Já diz o povão: em casa de ferreiro verga de pau!